Saturday, October 31, 2009

A Arte da Levitação

A ARTE DA LEVITAÇÃO
Como se fosses meu pai,
e não meu filho.
 
Alberto da Costa e Silva.
 
 
Dante, 
o dia me traz suas fadigas:
o desdém do aluno 
a arrogância do médico
a música estridente que me persegue no ônibus. 

Mas a ti retorno. 

Existe o quarto, existe 
o berço 
existe a noite que atravessamos juntos.
 
São nossos os viventes da madrugada:
as rodas a deslizar no asfalto molhado
o pássaro misterioso a chamar solitário 
o bêbado que passa mastigando a noite
querendo copular com Deus. 
Por fim o galo que bica insistente a casca da manhã.
 
Dante, perdoa-me 
os momentos de tristeza. 
Te peço
como se pai
e não filho 
fosses.

E assim é.

Continua a ensinar-me
tua didática de gestos frágeis 
e firmes. 
 
E eu que era pesado
que temia o tempo e suas urtigas
com um teu fio de cabelo
ato meu pé a esta cadeira
antes que pela noite saia levitando
como os apaixonados de Chagall.

2 comments:

Nathalia Fernandes said...

Belo.

Graziela Albuquerque said...

Bravo!
Só as mães (os pais) são felizes.