Friday, April 02, 2010

Milladoiro


Dante tem já suas musiquinhas de ninar: Marcus Viana (ex-Sagrado Coração da Terra) e três daquela série "for babies": Pink Floyd, Beatles e Elton John. Todos têm seus (diferentes) méritos, porém outro dia estava eu a passear com ele de carrinho pela sala e bateu vontade de escutar alguma coisa diferente, mas alguma coisa, ressalte-se, que também servisse para niná-lo, pois a hora era de dormir.

Milladoiro.

Conheci esta maravilhosa banda galega em 1988, quando larguei trabalho, faculdade, amigos e família para estudar galego em Santiago de Compostela por um mês. Fiz parte da primeira turma do hoje já afamado Curso de Galego para Estranxeiros. Só pelo Milladoiro já teria valido a loucura.

Em minha bagagem trouxe um Lp, O Berro Seco, e uma fita cassete (!), Galicia no Pais das Maravillas, que pronto se tornou um de meus discos diletos.

Voltei à Galícia oito anos depois, quando tive a chance de incrementar minha coleção do Milladoiro, desta feita, naturalmente, com CDs.


A música é tradicional e instrumental, extraída de diversos cancioneiros, mas ocasionalmente há composições do grupo. Os arranjos, as leituras feitas do rico manancial popular anônimo, têm o seu quê de modernizante, ou seja, as canções são arredondadas, podadas das asperezas próprias das músicas realmente populares. Etnógrafos, etnomusicólogos talvez torçam o nariz, mas o que importa é que o resultado é belíssimo.

O que Dante e eu ouvimos na sala foi precisamente o Galicia no Pais das Maravillas (com a participação das pandereteiras de Cantigas e Agarimos, que tocam e cantam em três músicas), até hoje meu trabalho preferido da banda, seja por razões "objetivas" (estaria a banda em seu ápice?), seja pelas razões desarrazoadas do coração, de vez que as músicas, profundissimamente evocativas, estarão sempre indelevelmente associadas à minha (a)ventura galega de 1988...


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