Tuesday, June 05, 2012

Fazer-me pai à beira de teu corpo



Esta pequena nota não pretende "explicar" o poema publicado abaixo, mas tão-somente esclarecer algo de sua gênese.

Antes de mais nada, a "técnica" (não sei se a palavra aqui é apropriada) foi a mesma já usada em outros poemas como "Minha Vida Inteira", "Daylight Saving Time" e o segundo de "Dois Poemas para Dante e um Terceiro", quando dialoguei, respectivamente, com Drummond, Ionesco e Montale. Se bem que, o que nesses exemplos serviu como espécie de mote a uma glosa, aqui houve mesmo um diálogo e uma incorporação maior de um poema, digamos, inicial, pois há mais versos de Afonso Félix de Sousa (toda a segunda estrofe) do que propriamente meus. Técnica que revela, ao menos, minha mediocridade enquanto poeta: escrevo porque leio.

Com o pós-modernismo podemos tudo. Mas como me desagradaria a acusação de pláguio (de todo ingênua e tola), faço questão de deixar marcas de modo a apontar o intertexto. O que se dá, claro, é que por ser Afonso Félix de Sousa poeta pouquissimamente conhecido, as marcas acabam não servindo para nada, ainda que, penso, servirão no mínimo para elevar esteticamente o meu esforço.

As marcas, aqui, foram o décimo verso de meu poema, que cita o nome do livro de Afonso em sua inteireza, e, no caso do blog, a foto postada: a página de rosto do livro com seu nome e o autógrafo de AFS para mim (o leitor atento perceberá a data -- julho de 92 -- e ligará a "esperar os vinte anos").

Mas se digo "meu poema" referindo-me apenas à estrofe inicial, também revelo-me ingênuo. O meu poema são as duas estrofes: a que escrevi e a do AFS, retirada de seu livro À Beira de Teu Corpo, publicado em 1990 por ocasião da trágica morte de seu filho Giles (meu amigo em nosso exílio em Chicago) e que, aqui, neste diálogo, faço minha, insuflando-lhe nova vida. Para o bem e / ou  para o mal.

1 comment:

Anonymous said...

O que aprendo por aqui....E como me deleito!

LuaR