Saturday, June 23, 2012

Paulo Poeta




Conhecido como cronista e ignorado como poeta, Paulo Mendes Campos terminou seus dias publicando sonetos no jornal (em caixa alta, argh), quando jornal ainda publicava poesia inédita. Eu esperva pelos domingos e os cortava para guardar.

O cronista era conhecido de todos, celebérrimo que se tornara na coleção Para Gostar de Ler (lembram? o pinto na capa), junto ao Rubem Braga, Fernando Sabino e Drummond. Quando apresentei na PUC um seminário sobre a Geração de 45, que eu defendia caninamente, o professor, que não conhecia nada da Geração e só lia os poetas que todos leem, logo menosprezou a inclusão de Paulo no grupo: "Cronista...". Ao estrear em 1951, pertence à dita Geração, mas isso agora não me interessa muito.

O Domingo Azul do Mar é de 58, mas quase faz as vezes de primeira obra poética, de vez que o de 51, A Palavra Escrita, dado o caráter artesanal da editrora Hipocampo (de Niterói!) passou praticamente despercebido.

Eu dava um braço para ter essa primeira edição da Hipocampo. Bem, tenho a do Domingo, edição numerada, 721.

Dialoguei com o Paulo Mendes Campos por duas vezes: numa epígrafe de um soneto em Taipa e num dos textos que usei como suporte de minhas fotografias na exposição Por dentro e por fora, menino.

Os versos que usei como epígrafe do soneto são:

Oh! alusões morenas de azulejos!
Ah! espelhos perversos de desejos!
Oh! chama retesada em musselinas!
Ah! musgos violados de meninas!

Os que usei para dialogar com minha foto dos meninos em Biribiri:

O melhor texto li naquele tempo,
Nas paredes, nas pedras, nas pastagens,
No azul do azul lavado pela chuva,
(...)
No sol-com-chuva, já quando a manhã
Ia lavar a bunda no riacho.
Tudo é ritmo na infância, tudo é riso,
Quando pode ser onde, onde é quando.

PS: Em edição posterior, trocou-se o "bunda no riacho" por "boca no riacho". ?!?! Quem mexeu na bunda da manhã? Paulo ou algum editor??

Não troco a bunda da manhã por nada.

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