Thursday, December 06, 2012

O Amor na Ópera-Rock



De maneira que não será possível qualquer estudo sério sobre as óperas-rock sem levar em conta a temática do amor de tal modo este sentimento esquisito surge em canções tão maravilhosas.

Na segunda ópera-rock do The Who, Quadrophenia (1973), muito melhor que a primeira e mais badalada Tommy, "Love reigns o'er me" fecha toda a história e, God, que fechamento. Ela vem mesmo depois de mais um interlúdio instrumental, "The Rock", que faz às vezes de conclusão clássica ao recapitular trechos do álbum, os quatro trechos que representavam as quatro facetas da persoanlidade de Jimmy e, de certo modo, os quatro membros do The Who. Ou seja, os acordes iniciais da música vêm depois do fim.

Épica, grandiosa, transbordante, "Love reigns o'ever me" mostra-nos um Jimmy já completamente frustrado e derrotado. Restou-lhe a chuva. E o sentimento esquisito, ouso afirmar. A ambiguidade da homofonia aqui é tão óbvia quanto verdadeira e bela: love reigns, love rains. love, reign!, love, rain!.



Foi preciso que 21 anos se passassem para que outra obra-prima tematizasse o sentimento esquisito, e agora falamos do Brave, do Marillion. Pobre Marillion, too mainstream to be progressive, too progressive to be mainstream. Água. Marillion é o que é, nasceu influência cuspida e logo estava cuspindo influência para todo lado. Brave é repleto de musicão, daquelas de encher estádio e, portanto, fazer torcer o nariz de tanto proghead.

Canção definitiva sobre o esquisito sentimento ("It makes you desperate and it makes you dream / It makes you dangerous and it makes you scream / But it's all worthwhile / Just lie back and smile"), "Hard as Love" surge quando a jovem encontrada pela polícia à beira de pular da ponte discorre sobre suas experiências amorosas fracassadas, seja com namorados seja na família. Não fica claro se ela se dirige aos policias (como claramente antes, em "Standing in the Swing": "I appreciate your concern / But don't waste your time on me").



E vieram mais oito anos para que a nova onda de prog, já gloriosa e defininivamente instalada, e ainda em plena pulsação, produzisse Snow do Spock's Beard. Aqui, mais uma vez: o êxtase, bliss, celebração. Walt Whitman lido de cima de uma mesa.  Snow, que podia ver o interior das pessoas, apaixona-se perdidamente por mulher que o despreza. E, claro, isso ele não pode ver. "Open wide the flood gates / And let love take your soul / Open wide the flood gates / 'Til there's so much you overflow". O amor rebenta as fronteiras e os diques e as represas. To hear with ears wide open. To feel with skin wide open.






(Só está aqui a parte 1. Fico devendo a segunda. A passagem de uma à outra é soberba)

1 comment:

Psicodelicatessen said...
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