Friday, December 28, 2012

O Coro dos Anjos. E a Minha Vó.



Eu tinha grandes dificuldades de levar minha vó à ópera. Em verdade, nunca consegui. As poucas vezes em que fomos juntos (uma Aida, um Rigoletto) não foi porque eu a tivesse convidado, eu é quem estava sendo levado. Porque a partir do momento em que decidi tomar a iniciativa e a convidava, a réplica era sempre a mesma: "Ah, não, é muito triste!...". Ao que não adiantava eu insistir: "Mas é bonito, vó!".

Sempre me lembro, e às vezes conto, dessa história quando trabalho algum texto ou alguma canção que seja, digamos, "triste". Há sempre quem torça o nariz, e muito. Como se não houvesse beleza na "tristeza". E como se literatura, arte, tivesse que ser disneylândia ou paulo coelho. Uso aspas em "triste" e "tristeza" porque nem vejo tristeza aí. Triste é música medíocre, é texto idiota.

Exemplo clássico é "Paul's Case", da Willa Cather. Todo o conto, mas sobretudo a cena final do suicídio. E tantas vezes parecia que eu era o único na sala a cada vez achar aquilo lindo, a cada vez me emocionar. Muitos alunos torciam narizes e bocas e eu só não ficava zangado porque me lembrava da minha vó.

Que estava longe, não será difícil imaginar, de ser grande conhecedora de ópera ou música em geral. Mas ela me falava de uma ópera pouco conhecida entre nós, o Mefistofele, do Boito, e seus olhinhos se enchiam d'água quando dizia Ah, o Coro dos Anjos!....

Vim a conhecer enfim esses anjos em 1993. Toquei para ela, que, claro, se desmanchou.

Há, de fato, dois coros dos anjos no prólogo (que, logicamente, se passa no céu). O primeiro é apenas a Falangi Celesti ("apenas"), enquanto no segundo temos a Falangi, os Penitenti e os Cherubini. Imaginem ensaiar tudo isso.

Achar no youtube não é muito fácil, pois o que geralmente aparece é a "Ave Signor" do Mefistofele, ele mesmo, o anjo caído, a debochar do que os anjos tinham cantado.

O que ora posto é a versão que tenho.

Música, er, celestial. Daquelas de se  enfiar numa sonda e mandar para o espaço ou enterrar numa cápsula para que resista aos apocalipses.



PS: O menino da foto não é o Dante. Não deu tempo.

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