Saturday, February 02, 2013

Na tarde quente Dante dorme azul




na tarde quente Dante dorme azul
na rede que o recebe como útero
na tarde útero ressona Dante
quente protegido pelas varandas
tramadas por mãos quentes e recém
saídas do útero da tarde ::: o sono
untuoso tranca Dante em si e o trança
à memória dos bilros que ressoam
ainda na pele desta rede azul
e larga como o sono dos moluscos
na tarde quente Dante é caramujo
e a rede é uma casa de casquinha
tecida por ágeis dedos marujos
em tardes quentes azuis e marinhas



Iguape 2013

4 comments:

A VIDA NUMA GOA said...

Como o soneto trata a rede como local de proteção, fechado, achei por bem carregar na vogal fechada /u/, daí 'azul','útero', 'untuoso', 'molusco', 'caramujo', 'marujo'.

E como a rede foi tecida e tramada pelas rendeiras do Iguape, achei interessante colocar muita consoante nasal, principalmente nos encontros 'nt' e 'nd'. Daí 'quente', 'varanda', 'untuoso','tranca', trança' e, claro, 'Dante' o feioso.

Camila Figueiredo said...

Dear Evandro,
dormir azul tem a ver com a bota que o little Dante está usando?

A VIDA NUMA GOA said...

Dear Camila, claro! E com a rede e com o céu e com o azul.

bj

Luiza Machado said...

só esse título já é a coisa mais linda...