Tuesday, September 17, 2013

Nossa Senhora da Boa Morte em Minas



Também de Buda não se diz que morrreu, mas que se deitou, sob figueira, daí as lindas (às vezes enormes) imagens de Sidarta reclinado, de que vi espantosos exemplos no Sri Lanka.

Nossa Senhora da Boa Morte representa o momento em que a mulher do carpinteiro deita-se para dormir, depois de, convenhamos, vida algo atribulada.

Acho que o culto à Nossa Senhora da Boa Morte não pegou muito por aqui. Em Cachoeira-BA, no entanto, ele é forte, por isso estou doudo para voltar lá. Forte na forma de não poucos sincretismos, por isso mais ainda doudo para voltar.

Em passeio recente pela velha Sabará, encontro imagens desta Nossa Senhora :: no museu anexo à Igreja do Rosário e naquela fantasmagoria linda que é a igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Isso só reforça o caráter 'sevilhano' de Minas, tão a gosto de Pedro Nava.

"Minha Minas. Muito mais espanhola que portuguesa, muito mais cervantina que camoniana, goiesca que nuno-gonçalvina. Pelo tipo de teus filhos. Por tua porcentagem de ferro nas almas. Pelo auto-de-fé de teus crepúsculos vermelhos como Sevilha - como a Semana Santa acesa de Sevilha. Pelo teu gosto pela Morte. Vi na mais alegre de tuas cidades -- Diamantina -- uma sacristia cheia de recipientes enormes lembrando compoteiras, sopeiras quadradas. Descuidado, abri uma delas. Ossos. A outra, a terceira, todas -- cheias de ossos. O velho Pinheiro que acompanhava minha visita explicou que aqueles restos ficavam ali para as famílias virem, dia de Finados, rezar diante das urnas, tampa na mão, olhos ns caveiras, nos fêmures, tíbias, cúbitos, vértebras, no resto dos esqueletos que estavam esperando pelos deles. Teus mortos, Minas!" (Chão de Ferro, pp. 309-310)

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