Sunday, February 16, 2014

Crônicas Búlgaras 4 ::: A Catedral de Alexander Nevski e Prokofiev




Lembram daquelas coleções de disco clássico vendidas em banca de jornal? Foi por meio de uma delas, em 1985, que conheci Prokofiev (já aqui), desde então um de meus compositores preferidos. E o disco nem era meu, mas emprestado de amigo. Se o intuito dessas coleções era tornar a música erudita um pouco mais acessível, bem, conseguiram.

E a obra nem era das mais populares desse ucraniano que tampouco é dos mais populares: a cantata Alexander Nevski. Aquilo ali, desde aquele começo poderoso sutil, escavou-me a alma. Uns três anos mais tarde adquiri gravação mais decente (a do Fred nunca devolvi) e depois, claro, comprei o CD junto da suíte Cinderela (que tem a introdução mais linda de toda a história da música universal).

A cantata nasceu da trilha-sonora que Prokofiev escrevera para o filme homônimo de Sergei Eisentein. A música, nacionalista, pode ser acusada de fazer concessões ao zdhanovismo? Bem, talvez. Mas sua beleza transcende o contexto em que foi produzida, servindo para qualquer embate entre a valentia de Nevski e os odiosos cavaleiros teutônicos. Cavaleiros teutônicos, by the way, que às vezes carregamos no peito.

Um de meus projetos de vida é ir à Rússia colocar uma flor no túmulo de Prokofiev. Explico: como o mestre morreu no mesmo dia do sanguinário Stálin, todas, mas TODAS as flores da União Soviética foram enviadas para o assassino. Não sobrou umazinha para o Prokofiev. Um homem que escreveu essa cantata sombria, pungente e redentora.

Enquanto esse dia não chega, conheço Sófia que tem sua linda catedral de Alexander Nevski. Aos domingos a missa é cantada, inesquecível. A igreja é mesmo búlgara: linda, linda, mas algo distante, misteriosa, altissonante. Fotografias eram expressamente proibidas. Todas as que tirei, portanto, são ilegais e como infrator estou sujeito às penalidades da legislação em vigor.


 

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