Tuesday, January 06, 2015

O Cavalo de Turim, Pequena Resenha


Mutter, ich bin dumm
Nietzsche


A moça reclama que a primeira palavra só foi pronunciada decorridos mais de vinte minutos de filme. Um monossílabo. No modo imperativo.

Mas O Cavalo de Turim (Béla Tarr, 2011) não era sobre Nietzsche ou sobre pessoas ou sobre Turim ou sobre cidades, era sobre um cavalo. O cavalo. O título já deixa isso claro. E cavalos não falam, mesmo que se dê bom-dia a eles.

Ou falam, a seu modo. Guimarães Rosa dizia que os homens vivem reclamando disso e daquilo, mas se alguém quer saber o que é tristeza de verdade deve olhar fundo nos olhos de um cavalo. É o que este filme faz.

Se o filme é já um registro poderoso da rudeza da vida de camponeses de países frios, ele se alarga se visto como metáfora. Com efeito, a ventania incessante, a dicotomia exterior / interior, permitem a leitura da luta homem X natureza ou homem X sociedade, de uma maneira que não se restringe ao meio rural, de vez que incomunicabilidade e fossilização do cotidiano, as temos tanto na Hungria rural quanto na grande São Paulo.

A fotografia é de beleza meticulosa. Cada still renderia um quadro que eu gostava de ter na parede. A poderosa música, de Mihâly Vig, me lembra "Collected Songs where every verse is filled with grief", do russo Schnittke, sobre a qual escrevi aqui.



Música para acompanhar :: a já citade de Schnittke
Pintura :: "Os Comedores de Batata", de Van Gogh
Romance :: De Verdade, de Sándor Márai

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