Saturday, May 30, 2015

As Crianças do Vale do Capão



O Capão tem tantas crianças quanto tanino em suas águas. Os que vão subir a Fumaça precisam antes passar pela Isadora, que fala muito pouco e tudo observa. Isadora vive em meios aos travesseiros de macela de sua avó Helena, a que elazinha chama 'de marcela' (os travesseiros não a avó), mas faz manha mesmo é para que a vó lhe dê chocolate, quando fica mais quieta ainda.

A quase centenária capelinha é ponto de encontro das bicicletas, noite e dia, mesmo que o Brasil esteja levando surra da Alemanha.

No caminho da Purificação demos com Dito e Miguilim, em carne e osso. Dito falava pelos cotovelos, que trazia cobertos porque o sertão baiano sabe ser friinho nos meses que não levam a letra 'r'. Adivinhávamos o que diria Miguilim, o não-dito.

André foi nosso guia em Conceição dos Gatos, onde gosta muito de morar.











PS: Eu não subi a Fumaça. Preferi tentar conversar com a Isadora e comer pastel de jaca, conforme já relatei aqui ::



a Dona Helena faz pastel de jaca
com a mesma massa com que faz o pão
amassa os dentes da cansada faca
resgata a culinária do Capão
a Dona Helena mora na passagem
que leva os caminhantes pra Fumaça
adverte esperta à porta essa viagem
é muito longa desconheço raça
de gente que despreze um bom descanso
vem entra aqui demora um pedaço
que já te trago um pastel de jaca
vai ser do frito ou vai ser do assado?
Dois de cada :: e uma cerveja também
fique a Fumaça pra amanhã. Amém.



O guia André também já ganhara soneto :::


Pequeno André é guia do Capão
que conhece como não conhecemos
filigranas da nossa própria mão
do alto dos seus bem vividos dez anos
conhece a mata o rio o cheiro o chão
nos guia por veredas cor de luz
nos guia pelas águas cor de ferro
Pequeno André pequenos pés descalços
trilha os desmundos do Capão seus erros
suas astúcias tanto mais revelam
que o caminho ditado pelos mapas
enfim chegamos e eu me deito aqui
nesta pedra me deito à beira à borda
se eu dormir, deixa; se eu morrer, me acorda
 

No comments: