Friday, August 14, 2015

Seu André, botafoguense roxo



Seu André, cearense de Nova Russas, dentuço, gago, botafoguense roxo, dono de botequim em Triagem em que resiste uma parede de azulejos tradicionalíssimos. Triagem, bem o sabeis, é reduto militar. O centenário Hospital do Exército fica a um salto de pulga dali. Seu André, cearense de Nova Russas, sabe que dono de botequim não pode levar paixão clubística a ferro e fogo que espanta clientes. Falo com ele do bar em Mendes cujo dono vascaíno usa uma camisa do Flamengo como pano de chão e ele ri gostosamente. Ele me fala de um militar reformado, flamenguista, que tirava sarro do seu time do coração e ele levava na esportiva. Um dia esse militar, segundo semestre do ano passado, foi ofender a Dilma, chamando-lhe, dentre coisa e outra, de terrorista. Seu André, paciência apreendida sob o sol das roças de milho de Nova Russas, argumenta que ser terrorista naquela época era lutar contra a ditadura assassina. Seu interlocutor não gosta. Nunca mais fala com ele. Passa pelo botequim apenas para tomar sua cerveja no bar ao lado.

Seu André perde o cliente, mas não o seu senso de justiça.

Demonstro meu total apoio. Mas ao me despedir, exorto "Olha, mas não vá me tirar esses azulejos azuis e brancos porque senão quem para de falar com o senhor sou eu."

Seu André ri gostosamente, dando provas inequívocas de que engoliu mesmo o piano, deixando apenas o teclado do lado de fora.



1 comment:

Ivo Korytowski said...

Bacanas essas incursões por velhos bares que ainda preservam os velhos azulejos de outrora!