Saturday, September 03, 2016

Michel Temer, Frívolo Peralta



Este, o poema que minha vó sabia de cor e adorava recitar. Quando comemorei aniversário com recital de poesia em sua casa, ela, naturalmente, declamou este. Como a memória já falhava, pediu-me que eu ficasse na primeira fila, de ponto. Contou-nos a história do almofadinha Tertuliano como sempre o fazia: a voz impostada, gestos teatrais e, ao fim da apocalíptica palavra final, o riso gostoso.

Nesse dia eu já sabia que se tratava de um soneto, mas antes ela recitava, assim do nada, e eu tomava apenas como poema. Foi só quando o Millôr, por ocasião do impeachment do Collor (outro frívolo peralta), publicou-o em seu quadrado no JB, que eu vi lá o 4-4-3-3.

Conhecido por sua obra para teatro e alguma ficção, Artur Azevedo sai-se muito bem no soneto satírico, construindo pequena narrativa com personagens, caracterização, espaço e clímax. O uso de rimas em -alta nos quartetos aumenta seu caráter jocoso.

Fiz a paródia no calor do momento, cometendo um e outro pecadilho na acentuação dos versos. Depois eu corrijo. Ou não.

Numa primeira versão fechei com "merdinha golpista", substituída depois para "vampiro golpista". Perco o diminutivo denotador de desprezo (de resto mantido em 'Michelzinho'), mas, ao usar expressão já costumeira para o usurpador, ganho algo mais forte na caracterização.

Ah, era de lei que palavra final fosse a que é.


VELHA ANEDOTA


Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de dar um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;


Lá um dia deixou de andar à malta,
E indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, em frente de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:

-Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?


Penetrando na sala, o pai sisudo
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: - Juízo!



SONETHO SÓ PARA MICHEL TEMER

O Michel Temer, frívolo peralta
Que foi um babacão desde fedelho
Sempre antenou-se para um bom conselho
Que enfim lhe desse o que ele tinha falta;

Lá um dia sempre agarrado à malta
(Renan, Jucá, Cunha e o bom e velho
cheirador Aécio) viu-se frente a espelho
E à própria imagem disse em voz bem alta:

-- Michelzinho, és um rapaz formoso
Casado com novinha e talentoso!
Que mais podes querer, além da lista?

E o nosso povo, que ouvira tudo,
Respondeu, entre enojado e sisudo:
-- Cala a boca, seu vampiro golpista!



PS : Curioso que também já me referi à minha avó como 'vampira', doce vampira (ver aqui), mas ela é muito melhor que o Michel.

2 comments:

Ivo Korytowski said...

Discordo. O PT saqueou o país. Com Temer temos uma chance de deslanchar. Mas posso estar errado. Você pode estar certo. Ou vice-versa. A mente humana é falível. Aguardemos os acontecimentos e vejamos objetivamente, cientificamente, à luz da História, quem teve razão. Gostei muito de sua série marroquina. Marrocos e Turquia são desses países que sempre quis visitar mas não o fiz. Assim como existem livros que sempre quis ler mas não o fiz. O Fausto de Goethe (no original). Quem sabe um dia...

Evandro said...

Bem, Ivo, talvez seja inútil discutirmos baseados apenas em nossas opiniões, de vez que votei na Dilma (e votaria novamente), e você, não. Isto é, talvez não estejamos dispostos a reconhecer que erramos, embora você mesmo admita a falibilidade da mente humana.

Assim sendo, não lhe parece honesto examinarmos de que lado a imprensa internacional está? Se não me engano, o resumo é mais ou menos este: tiraram aquela que mais combateu a corrupção. Quem tirou? Ora, precisamente os corruptos.

By the way, você não ouviu o vídeo do Jucá?