Thursday, March 08, 2018

As Viúvas de Varanasi :: Crônicas Indianas 18



Subindo as escadarias do ghat Dasaswamedh, o mais movimentado deles, damos as costas para o Ganges e as ruelas para imergir no coração babélico da cidade. Há aqui um templo em especial ao qual acorrem muitas mulheres de cabeça raspada: as viúvas de Varanasi.

Se a situação da mulher é difícil (para dizer o de menos) na Índia, isto se multiplica quando esta perde o marido, independentemente da idade. Muitas aliás, e por aqui pode-se sempre falar em milhões, são mesmo muito jovens, com menos de 20, cujo marido muito mais velho morreu de AIDS ou tuberculose.

Antigamente quando uma mulher enviuvava ela deveria se jogar na pira funerária do marido: sáti, prática prescrita no Código de Manu. Os portugueses em Goa aboliram-na e há mesmo um romance da literatura indo-portuguesa de nome Bodki, nome dado às viúvas que não praticavam a autoimolação (e a quem, naturalmente, era imputado tudo de ruim que viesse a acontecer no povoado).

Ainda segundo o código, restar-lhe-iam duas outras possibilidades: casar com um cunhado ou uma vida de self-denial, isto é, de autoanulação total. Morte em vida. Daí falar-se muito ainda em "sáti em vida".

O filme canadense Water, dirigido por Deepa Mehta, discute a questão, com a narrativa em 1938, de modo a colocar Gandhi e sua influência na história.

Muito hindus radicais protestaram contra o filme, chegando a destruir todo o set de filmagem às margens do Ganges. Um sujeito em especial, Arun Pathak, tentou mesmo suicídio em protesto.

Vejam como há sempre bons motivos para se fazer um filme.


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