Tuesday, October 31, 2017

Crônicas Soteropolitanas III ::: A Cena Cervejeira Artesanal Baiana



Não será esta postagem um encômio à cena cervejeira artesanal baiana. Á incipiente cena baiana. Nesta cidade tão linda quanto tumultuada dominada pelas horrorosas Devassa e Schin, onde já é difícil encontrar uma Bohemia ou um casco verde salvador, a produção artesanal é mais que bem-vinda, inda que surgindo aos poucos.

No pub Rhoncus tomamos duas fabricadas por lá: uma IPA e a Tricolor, uma American Lager. Pedimos a Tricolor enquanto rolava o jogo do Bahia contra o Flamengo! Great expectations! Quando o Bahia empatou, a lager desceu bem. Depois que o time carioca fez o quarto gol, a gente caiu na real que a cerveja não era lá essas coisas.

Com a Amada foi pêor (em homenagem ao Bahêa): os rótulos são espetaculares, o copo é bonitinho, mas a IPA é apenas bebível e a Dos Santos, uma American Blonde Ale (é o que diz o rótulo), não presta nem como refrigerante. Mas foi tomando ela que eu bati os olhos no painel do Max Urban do outro lado da rua (aqui).

O Bahia perdeu e a cerveja não era grande coisa. Mas eu tinha as melhores companhias



To the Lighthouse



Não foi proposital. Volto ao Farol da Barra por amor de conferir o por do sol e, ao organizar fotos, vi que está sendo este um ano de farol, faróis: três na África do Sul, um em Sergipe, este da Bahia.

Consulto o índice do lindo Luzes do Novo Mundo : História dos Faróis Brasileiros e nada de achar o Farol da Barra. Pampi e eu estupefatos e indignados quando descobrimos seu nome de pia: Farol de Santo Antônio. Por sinal, o primeiro do livro. Por sinal (sinal luminoso catóptrico), o primeiro do Brasil e das Américas.

Trilha-sonora: A plague of lighthouse keepers ("I am a lonely man / My solitude is true")

Leitura: To the lighthouse

Then he reminded them that they were going to the Lighthouse tomorrow.


How could any of them say, But I won't, when he said, Come to the Lighthouse. Do this. Fetch me that.

Waterfront

Boa Esperança

idem

Agulhas

Aracaju



Sunday, October 29, 2017

As Canções do Greg



O que "Lucky Man", "From the Beginning" e "Still you turn me on" do ELP têm em comum? Fácil: são baladas, comparadas ao típico ELP, canções do Greg Lake.

Mas o que chama a atenção é que nas três não temos apenas o Greg solo, pelo contrário, nas três temos a (oni)presença da tecladeira do Keith.

Será fácil enxergar aqui um Keith chatão, bossy à la Paul, que não deixaria de dar os seus pitacos numa música, ainda que não fosse composição sua.

Embora me pareça correta, essa interpretação pede também uma outra, mais positiva. Ao contrário dos Beatles, já que citei o Paul, que chegaram  a um ponto, a partir do Álbum Branco, em que todo o sentido de união de grupo se pulverizara e que cada um tinha a sua música (o próprio George falou a um reticente Eric Clapton: Claro que você pode tocar, it's my song!), acho muito interessante que se preserve aqui um sentido de grupo e que mesmo numa canção (palavra aqui mais apropriada que música), o tecladista desse a sua participação. A sua grande participação, basta lembrar que "Lucky Man" tem o primeiro solo de moog de todos os tempos (aqui).

Não, não é pouco.






Friday, October 27, 2017

Five Years : What a Surprise!



Aconteceu tão logo comecei no colégio. Peguei uma turma de 8o ano (então chamado de 7a série), com quem permaneci no ano seguinte. Depois, no Ensino Médio, alguns alunos escolheram inglês e, por sorte, as minhas oficinas. De modo que foram meus alunos por 5 anos seguidos. São a Nanda, o Henrique, o Nélson. Formaram-se em 2004.

Depois nunca mais, mesmo porque é raro eu dar aula pra 8o ano. Mas peguei turma desses pirralhos em 2013. E, adivinhem, acompanhei-os no ano seguinte. E, adivinhem, alguns permaneceram comigo até agora: 5 anos já. São a Camila, a Joia, a Bela, a Isabella, a Helena.

Se por um lado é difícil dar aulas para os mesmos alunos durante 5 anos seguidos -- difícil, por exemplo, cumprir a primeira regra de never repeat a joke --, por outro rolam uma intimidade, uma troca, um carinho simplesmente deliciosos. Se o desafio da motivação e da conquista parece, at a glance, amainar, ocorre justamente o contrário: o desafio aumenta, ambos os lados.

Saudades já.

A trilha para esta postagem é "Five Years", do David Bowie, que se encantou durante este período em que elas me deram aula. A rigor, a letra, tirante a obviedade do título, não se adequa à postagem: aqui David, então em sua fase espacial, trata do período que nosso planeta teria antes de ser destruído, um período futuro, portanto, ao passo que euzinho aqui falo de um período passado.

Mas dois versos caem como luva: "I never thought I'd need so many people" e "We've got five years, what a surprise".

E eu quero que cinco anos sejam também um período futuro. E mais cinco e cinco e cinco.










As fotos são do Silmar. Obrigado, querido!


Thursday, October 26, 2017

Crônicas Soteropolitanas II :: O Boca de Galinha



Ainda uma outra experiência aos que desejam escapar da obviedade do Pelourinho (que adoro e recomendo) consiste em tomar um trem na sesquicentenária estação de Calçada para Plataforma. A linha que serve os subúrbios e os suburbanos de Salvador tem dez paradas, sendo Paripe a final. Não há voz anunciando nada, não há placas nas estações: o negócio é ficar atento e contar um, dois três e saltar em Almeida Brandão. Aqui é Plataforma.

A quem acha que vai perder a conta, um método mais poético: ao avistar as enormes alongadas palmeiras imperiais, puxe a cordinha. Aqui é Plataforma.

Da estação é andar pedaço miúdo para chegar ao Boca de Galinha: mesas de plástico, nada de Heineken. O cardápio enxuto diariamente escrito a mão num caderninho. Os preços (ainda) convidativos, as porções (ainda) fartas. Comensais das antigas reclamam que estas diminuíram enquanto aqueles subiam. Nada diferente do Nova Capela: louvam as farturas e os preços, o dono lê, acha que é um otário e logo muda tudo. O negócio é não falar nada. Boca de siri.

Eu, comensal nada antigo, só tenho elogios. Se o camarão não é espetacular, a lagosta compensa, com sobras. E quando passa o trem em meio ao restaurante e a Baía de Itapagipe, os adultos correm tudo pra janela por amor de fazer uma foto. Crianças.











Monday, October 23, 2017

Azulejaria Popular em Salvador :: Max Urban

Farol da Barra


Bem pouco se sabe acerca de Max Urban, autor de diversos painéis azulejares em Salvador. Parece que antes de se instalar na capital baiana, trabalhou em São Paulo, não sendo impossível que tenha tido algum contato com o Ateliê Moral, conforme já conjecturei nesta postagem aqui de quase três anos.

Tomava eu a cerveja artesanal baiana Amada, ainda me refazendo do susto que é o pôr do sol no Farol da Barra, o mais bonito do Brasil junto com o de Pirenópolis (aqui), quando bato os olhos no grande painel do outro lado da rua. Sorte imensa. E então começo a juntar os pauzinhos: está lá a 'assinatura' Azulejos Artísticos Urban, que é como Max se identificava. É dele também o painel do Edifício Alaska, bem como um outro na Ladeira da Barra e ainda um outro no Edifício Rio Alva que eu também registrara por acaso em 2014.

E é dele também o grande painel no exterior do Elevador Lacerda, o que prova o prestígio de que gozou nos anos 60.

Há outros painéis seus na Av. Sete de Setembro e na Rua Presidente Kennedy.

Algo como o trabalho dos Irmãos Igrejas no Rio. Só não sei se ele fazia também santinhos... Bem que ele podia ter povoado as platibandas soteropolitanas de orixás....

Como todas essas obras ficam em edifícios, ainda que pequenos, a chance de serem postas abaixo é menor. De qualquer modo, com a sanha de Geddel (e suas malas) e das empreiteiras em levantar espigões, cumpria tombar os painéis incontinenti.




Alaska





Ladeira da Barra



Lacerda

Rio Alva



Macca em Salvador



Uma entrevista com jovens fãs dos Beatles um pouco antes do famoso show no Shea Stadium, NY, em 1966, sempre me comoveu big time. É ligeiramente estarrecedora a parcialidade do repórter Roger Whittaker (estamos falando de parcialidade da mídia?), que procura convencer as fãs de que os Beatles são uma modinha passageira e que elas estão ali por causa da modinha. Depois de fracassar com as meninas, ele tenta um garoto, afinal os Beatles nada mais seriam que rostinhos cute para garotinhas em flor. A resposta do garoto é igualmente ótima. Enfim, o pau-mandado do Dallas Times obtém o que queria com uma criança, que responde preferir Herman's Hermits aos Beatles.

Respostas -- proféticas -- dos jovens fãs:

"They'll never go out of style"

"(They will last) As long as they keep playing"

"I wished they lived forever. They could bring happiness to everybody"






Não foi outra coisa que sentimos sexta-feira passada, 51 anos depois.






Sunday, October 22, 2017

Crônicas Soteropolitanas I :: Feira de São Joaquim



Quando você se cansar do Pelourinho (que eu adoro), achar que as baianas e os capoeiristas estão, hum, meio gentrificados demais e bater vontade de pular no primeiro marinete que te deixe na Chapada, no São Francisco, em alguma cidadezinha do Recôncavo ou, 'pior', no Raso da Catarina, lembre que ali mesmo em Salvador, na Cidade Baixa, existe ainda a Feira de São Joaquim.

Ali mesmo, em Água dos Meninos (nome lindo) a mais antiga feira da cidade, ou não se chamaria São Joaquim, ele mesmo vovô do Menino. (Tudo se encaixa)

Foi visita corrida, que adiante tinha almoço com a sogra. É voltar muitas vezes.

Foi visita corrida, mas nada que nos impedisse de arrematar o mais fresco azeite de dendê, canecas dos orixás e, claro, quilos e quilos de camarão seco, que aqui no Rio só se encontram casca e cabeça. O avião inteiro rescendendo a camarão seco no voo de volta.